Está um céu fumado, sem se ver o horizonte / Um frio de cortar. Ninguém. Uma chuva miúda.
A minha paixão pelo comboio vem de pequeno. Com tanto como quatro ou cinco anos, os meus olhos brilhavam no museu da locomotiva ou no denso das linhagens de Campanhã.
Eu cumpro, tu cais, eu pairo / e tu pairas devagar e sorrateira / pelo ar, como que implorando.
Ao passo que a cama estremece, alguém toca as minhas costas. Tento abrir os olhos, mas não posso.
Se pudesses voltar, voltavas, Não é possível voltar ao passado com informações do presente, Tão-pouco é possível voltar ao passado.
Nesta sala encaixamos convenientemente na cama, de braços abertos. A recolha dos casacos correu bem, excetuando o facto de o meu colega da direita ter tirado o meu casaco.
As pessoas são egoístas, são complicadas, são desnecessárias, são inconsequentes.
No último ano tornei-me um robô programável, e dificilmente sei mais do que fazer, repetir, olhar, desviar, voltar a olhar e esquecer.
Se há que falar de prepotência / chamem-me de todas as formas / Eu disparo rente e focado.
Caminhamos para um estado de alucinação pós-apocalíptico em que não mais sabemos olhar nem tocar.