No último ano tornei-me um robô programável, e dificilmente sei mais do que fazer, repetir, olhar, desviar, voltar a olhar e esquecer.
Se há que falar de prepotência / chamem-me de todas as formas / Eu disparo rente e focado.
Caminhamos para um estado de alucinação pós-apocalíptico em que não mais sabemos olhar nem tocar.
Viver presumindo que o mundo é fundado em bondade é potencialmente fatal. Sei eu disto nas horas livres em que atravesso as ruas e aceno aos motoristas.
É evidente que uma noite de céu limpo não é ocasião para celebrar a existência. Há por fim clarividência para aceitar a circunstância de que a felicidade é demasiado cara para durar tão pouco.
Escolhemos o verão para fazer uma pausa nas nossas vidas. Podíamos escolher o inverno e fruir o nevoeiro, o outono e olhar o cinzento do céu.
Não reparei em nada, Como assim, vou passar outra vez, Nada, Não viste? É potente e farfalhudo descobrir um caso secreto de paixão.
Hoje não faz sentido repetir a mesma fórmula de há um ano. Não sou o mesmo homem, nem sou confrontado com os mesmos desafios.
O perigo espreita em cada esquina, a cada badalada do relógio. Os granitos estão proibidos, caminhar nas ruas é um desporto radical de fraca visibilidade e rendimento baixo.
De regresso a casa depois de um almoço solitário, posso esperar que te atires, ou simplesmente atirar-te.