Carlos chega atrasado, suado, e senta-se de qualquer jeito. Mal me olha nos olhos. Falamos ainda esta semana, se não me falha a memória, há três dias, e vi nele o homem de sempre.
Disseram-me para comprar maçãs. Urge mudar de vida, dizem, e a melhor forma de o fazer é começar pelos pequenos passos do dia a dia, como comer decentemente.
Esta rapariga almoça sozinha, mas nós, como equipa grande e respeitável que somos, ocupamos-lhe a mesa por inteiro, ficando esta rodeada por estranhos.
Saio de casa pelas oito, depois um jantar rápido, a sós, a sós está também a rua por onde passo, salvo dois ou três transeuntes que levarão a mesma direção que eu.
Deito-me num qualquer areal / permitindo que a areia me bata / que o piso me manche a roupa / que o sol me turve a visão.
Há um tipo muito específico de tristeza que é absolutamente viciante: infiltra-se nas frinchas das paredes, impregna o ar ambiente e ainda insatisfeita entra pelos pulmões adentro e dificulta a respiração.
Vivemos agarrados a premissas, a verdades fundamentais e pessoais que nos seguram nos momentos de maior aperto.
Não posso, não posso acreditar no que me dizes, não faz sentido, quer-me faltar o ar, tenho de sair desta sala o mais rapidamente possível, porque não posso viver com esta história.
E nas antípodas do que profetizo vem o efeito borboleta, a ideia de que vivemos domados pela circunstância, que um pequeno mal-estar pode levar a um caos duradouro.
Há tempos escrevi um texto sobre a morte de uma pessoa, e como fiz com tantos outros textos ou deslumbres, maltratei-o, mas com pouco sucesso, porque ele habita na minha mente.