Todas as noites em que me deitei abatido / sem tenção de cair seleto nos teus braços / podia ter-te cedido uma ou duas ideias.
Reuniões, equipas, sugestões, projetos explanados e analisados, compromissos marcados e cancelados, desentendimentos por cansaço sem espaço, questões que só surgem porque não há foco no relato.
Sei exatamente o que fazer / quando fazer, como fazer / Sei os momentos em que calar / falar, olhar, desviar, lutar.
É hora de jantar, mas tu não vens / Deixas-te ficar no quarto, nessa / Vida condicionada pela teoria.
O que constitui a completa devoção ao outro / O que explica os condicionalismos que infliges / O que posso fazer para que ames um pouco mais.
É assim a vida, mais curta que comprida, porquanto o pouco tempo que temos nos é tomado por afazeres inócuos e inseguranças absurdas.
Está um céu fumado, sem se ver o horizonte / Um frio de cortar. Ninguém. Uma chuva miúda / Estão molhados os bancos, fechadas as farmácias.
A minha paixão pelo comboio vem de pequeno. Com tanto como quatro ou cinco anos, os meus olhos brilhavam no museu da locomotiva ou no denso das linhagens de Campanhã.
Eu cumpro, tu cais, eu pairo / e tu pairas devagar e sorrateira / pelo ar, como que implorando / por algo mais que não tens.
Ao passo que a cama estremece, alguém toca as minhas costas. Tento abrir os olhos, mas não posso. A janela que vejo é uma versão mais preta da minha.