Poucas vezes saio de casa a tempo para qualquer tipo de compromisso. Podem acusar-me de desorganização e desmazelo, mas tem tudo a ver com a necessidade de cumprimento de uma inabalável rotina que não cabe no fino intervalo horário entre o toque do despertador e o início oficial de mais um aborrecido dia.
Acordamos objetivos semanais, estou confiante de que agora vou apanhar o comboio para o sucesso.
O dia está soalheiro / viva a primavera / fabulosos dias grandes / Eles discutem.
Na faculdade, quando o professor pedir um trabalho sobre coragem, vou entregar uma folha em branco apenas com o dizer Isto é coragem.
Não obstante a natureza obscura do ser humano, muito do quotidiano quer-se apreciado ao longe.
Mentes brilhantes troçam o meu gosto pela bajulação, dizem que qualquer mulher que me queira deve pura e simplesmente elogiar-me ao desbarato.
as vozes ecoam no andar de cima / em uníssono estridente / cutuco os ouvidos e calam-se.
Atento, penso no que me faz sentir bem, quem sabe, ser feliz, fazer o que gosto sem definir objetivos em demasia ou remoer-me em preocupações e anseios.
O vento leva os romances nunca vividos, num sopro rápido que se faz sentir neste bungalow, pelas três da manhã.
Assistindo a um pseudodebate, dou por mim a pensar porque decidi não participar, ou porque mais uma vez me remeti ao silêncio quando devia falar.