A julgar pelo facto de o despertador ter tocado à mesma hora, a meteorologia ter respeitado honrosamente o trabalho de todos os meteorologistas, podia dar-se o caso de este dia ser apenas mais um no meio de muitos para Pedro.
Caro corretor, Venho por este meio exercer o meu direito ao apagamento dos dados de C. da minha memória, ao abrigo do artigo 17.
Ao Bar Afrodite chega todo o tipo de pessoas: desde miúdos irrequietos de liceu, até aos cinquentões de laço, passando pelos filhos de um qualquer credor.
Disseram-me para comprar maçãs. Urge mudar de vida, dizem, e a melhor forma de o fazer é começar pelos pequenos passos do dia a dia, como comer decentemente.
É dia de julgamento. Ciente da delicadeza do caso, desloco-me nervoso até ao tribunal. Faço-me acompanhar do meu advogado, que me garante uma boa probabilidade de condenação.
Imponente como o desejo, este palácio vê passar um casal com entusiasmo mas alguma apreensão. De mãos dadas mas nunca se olhando mutuamente, caminham à volta do palácio.
Tenho uma agonia. A agonia de não poder voltar ao passado, congelar o tempo com as mãos, roubar-te três ou quatro beijos e guardá-los dentro da garrafa que bebo com afinco no meio desta praça.
Nasce hoje e agora uma menina do outro lado do mundo, filha de pais estrangeiros separados pela idade mas não pela vontade de vencer.
Ainda que plenamente convencido da coincidência do que está prestes a acontecer, este rapaz caminha nesta zona de coexistência com a batida cardíaca acelerada.
Nesta noite de inverno clara, tão bonita, sento-me, só, lamentando os compromissos de amanhã, o sufoco de hoje ou o indiscernimento do passado.