Bar Afrodite

Ao Bar Afrodite chega todo o tipo de pessoas: desde miúdos irrequietos de liceu, até aos cinquentões de laço, passando pelos filhos de um qualquer credor, procuram apenas beber o seu cocktail em tons de rosa em boa companhia, discorrer com o bartender sobre o tempo, e esperar que o tempo lhes preencha um espaço que os mais céticos chamariam de vazio. Para efeitos desta história colorida, chamar-lhe-emos possibilidade.

A possibilidade, como gostam de evocar os frequentadores do Bar Afrodite, tem hoje outras cores. O bartender foi despedido, porquanto se envolveu em uma ou outra briga, pelo que os cocktails deixaram de ser cor-de-rosa. Cinza, cinza-escuro, pretos, são servidos, no entanto, com uma frequência igualmente admirável. A gente habitua-se, murmuram os homens, é mais do mesmo, exclamam os mais jovens. Mais do que mais do mesmo, acontece um fenómeno inédito, a clivagem destes em três grupos, os regrados, ou raros frequentadores, os moderados, ou rotineiros, e os fascinados, ou viciados. Juntos, formam esta gente vívida, frequentadora do Bar Afrodite.

Certo dia, espalha-se o rumor de que o Bar Afrodite teria falido. Assim que a noite cai, os piores receios confirmam-se. Por toda a cidade, chora-se a perda de azulejos, conversas e cocktails. Felizmente, corre um dizer que diz que está prestes a abrir o Bar Vénus, que terá como grande estrela o antigo bartender do Bar Afrodite, assalariado especializado na colmatação de possibilidades em tons de rosa.