Fanático pela estabilidade, adepto fervoroso da rotina ou da mesmice para os mais céticos, não me veria, à partida, a regressar sozinho de comboio da capital para o norte.
Não há viagem que faça sem me deparar com esta ideia mesquinha, este dogma patético segundo o qual acumular créditos é o caminho.
devia tirar tempo ao tempo que tira tempo / mas eu desejo o desejo de ser desejado.
tenho a dizer, o que fizemos / causou importantes danos / no meu monstro de anos.
Perturba-me / Perturba-me o que dizem dos homens / Nós que fizemos e levantamos o mundo.
E se nos desfizermos dos dias? Ficarmos só com as noites, com o escuro denso e impecável, com as alucinações que criamos em horário nobre.
Deito-me num qualquer areal / permitindo que a areia me bata / que o piso me manche a roupa.
E nas antípodas do que profetizo vem o efeito borboleta, a ideia de que vivemos domados pela circunstância, que um pequeno mal-estar pode levar a um caos duradouro.
Amar-te foi entregar-te uma arma / apontada aos meus demónios / e implorar que disparasses.
Hoje, o governo parece cair / Não sabes que roupa vestir / Bateste com o carro a vir.