Estrangeiro

Deito-me num qualquer areal,
permitindo que a areia me bata,
que o piso me manche a roupa,
que o sol me turve a visão.

Soubesse o que viria,
faria tudo isto de novo?
Vale a pena sair do país
para voltar sem nada?

Quero dizer que não,
nāo, como é óbvio!
Respeita-te, rapaz,
abre os olhos!

Eles estão abertos,
estão olhando o sol,
estão-se regozijando
com o comboio

E logo, porventura,
serei dono do mundo,
com o futuro na mão,
a alegria no coração!

Por isso calem-se,
calem-se com a razão,
eu só quero esta sensação,
um pouco mais deste serão!

Terá valido a pena?
Eu sou estrangeiro
Só sei ser estrangeiro
Só assim sou eu mesmo
Só assim saio de mim

E de praia em praia,
de terra em terra,
continuarei, para um dia
parar algures, rasgar este
poema, falar a minha língua

Oh, onde estás? Existes?
E quando chegar a ti,
serás dona de mim,
ou serei este estrangeiro
deitado num qualquer areal?