O que eu mais quero é luz. Que se iluminem as noites, se acendam os candeeiros dos quartos, se desfaça o escuro em pedaços, se deixe o escuro estar no passado e seja mais simples ver.
Saio de casa pelas oito, depois um jantar rápido, a sós, a sós está também a rua por onde passo, salvo dois ou três transeuntes que levarão a mesma direção que eu.
Há um tipo muito específico de tristeza que é absolutamente viciante: infiltra-se nas frinchas das paredes, impregna o ar ambiente e ainda insatisfeita entra pelos pulmões adentro e dificulta a respiração.
Não sou nada. Tirando isto / tenho em mim todos os sonhos / do mundo / (ah, que eu sou tudo e nada!).
Vejo-te apenas a tempos / Vejo a tempos o teu sorriso / o teu jeito, o paraíso / Iluminas-te apenas a tempos.
De nada se pode queixar esta centopeia: com patas precisas e corpo ágil, desloca-se livremente pelo mundo dos esgotos sem compromisso ou responsabilidade.
Sem saber se acedo ou retrocedo, sento-me devagar no comboio ao lado de um homem de barba branca e fato azul.
Nasce hoje e agora uma menina do outro lado do mundo, filha de pais estrangeiros separados pela idade mas não pela vontade de vencer.
Está um céu fumado, sem se ver o horizonte / Um frio de cortar. Ninguém. Uma chuva miúda / Estão molhados os bancos, fechadas as farmácias.
Onde leva a indiscrição / Falta de bom senso / Perda de noção / Cinismo intenso / Se me leva a ti / Bela, desejada.