Amor, eu sou o amor

Não sou nada. Tirando isto,
tenho em mim todos os sonhos
do mundo.
(ah, que eu sou tudo e nada!)

Flutuo pela praça do infinito
que já não é minha,
(mau seria se fosse!)
passando por casas
arruinadas pelo desgosto,
(e quanto desgosto já vi!)
povoando-as com energia,
por dois que juntos anuem
que sou uma construção,
(enfim alguma lucidez!)
que não sou o tempo
nem é o tempo que me faz,
(rasguem-se os calendários!)
que não faço almas gémeas
mas almas encontradas,
(isto é, que se encontram!)
que sou o espaço, e o calor,
e o claustrofóbico, e o frio,
e os lençóis entrelaçados,
e as noites mal dormidas,
e os dias sorrindo sozinho,
e o crepúsculo entre isto
e aquilo e aqueloutro
(ah, que eu sou tudo e nada!)

Amor, eu sou o amor,
não posso ser analisado,
(ai de quem o ouse!)
tenho em mim todo o sentido
e sentido nenhum.
(ah, que eu sou tudo e nada!)