De nada se pode queixar esta centopeia: com patas precisas e corpo ágil, desloca-se livremente pelo mundo dos esgotos sem compromisso ou responsabilidade.
Sem saber se acedo ou retrocedo, sento-me devagar no comboio ao lado de um homem de barba branca e fato azul.
Não há nada de novo neste texto, tal como nada de novo houve neste dia. Os problemas de hoje são os mesmos de ontem, e a vida é uma luta inóspita e sem termo contra os próprios defeitos.
Hoje viajei pelo teu mundo / Deambulei pelos teus traços / Descolei por um segundo / Dos meus arredores baços.
É certo que não importa o que fazemos, dizemos ou pensamos, pois o sentimento comanda a vida. Desde o trabalho que aceitamos, o favor a que acedemos até às novidades que tentamos.
Em qualquer instância, independentemente do desgaste do momento, do saudosismo emergente, de uma resolução que teima em aparecer, há sempre um futuro por que lutar.
Nesta terra onde não há nada, o almoço serve-se sem bebida e as portas estão trancadas. Voluptuosas cadeiras em secretárias ajustáveis são assento para um conjunto de almas que deambulam produzindo uma qualquer coisa.
É assim a vida, mais curta que comprida, porquanto o pouco tempo que temos nos é tomado por afazeres inócuos e inseguranças absurdas.
As pessoas são egoístas, são complicadas, são desnecessárias, são inconsequentes. Propõem alargar o sofrimento às pequenas execuções do dia, e fazem-no de forma prepotente e comiserada.
Caminhamos para um estado de alucinação pós-apocalíptico em que não mais sabemos olhar nem tocar. Há um filtro que turva a paisagem e desmagnetiza os corpos.