Esperei por ti / Esperei por ti louca e desalmadamente / Esperei por ti todos os dias do ano / De tanto esperar perdi-me lentamente.
Nesta terra onde não há nada, o almoço serve-se sem bebida e as portas estão trancadas. Voluptuosas cadeiras em secretárias ajustáveis são assento para um conjunto de almas que deambulam produzindo uma qualquer coisa.
Não me interessa muito, na verdade, mas arroz com atum? Enfim, podiam tratar melhor os convidados. Aquecer comida no micro-ondas à nossa frente não me parece nada elegante.
Todas as noites em que me deitei abatido / sem tenção de cair seleto nos teus braços / podia ter-te cedido uma ou duas ideias.
É hora de jantar, mas tu não vens / Deixas-te ficar no quarto, nessa / Vida condicionada pela teoria.
Nesta sala encaixamos convenientemente na cama, de braços abertos. A recolha dos casacos correu bem, excetuando o facto de o meu colega da direita ter tirado o meu casaco.
No último ano tornei-me um robô programável, e dificilmente sei mais do que fazer, repetir, olhar, desviar, voltar a olhar e esquecer.
Se há que falar de prepotência / chamem-me de todas as formas / Eu disparo rente e focado / estilhaço o teu coração.
Caminhamos para um estado de alucinação pós-apocalíptico em que não mais sabemos olhar nem tocar. Há um filtro que turva a paisagem e desmagnetiza os corpos.
Sei-me inútil à sociedade, mas ser ostracizado desta forma em nome de uma profilaxia cega e ofensiva fez disparar os meus alarmes biológicos.