Uma ferida transversal / Insinuação de memorabilidade (026)

Quando estamos atrasados, a nossa relação com o bom-senso sai prejudicada. Isto é claro, e a juntar a níveis irresponsáveis de autoconfiança, a porta para o desastre fica escancarada.

Eu ia voltando com o volante para a esquerda e para a direita em tiradas rápidas, numa estrada sinuosa, como que num simulador sem acesso ao stick analógico, enquanto programava o GPS, dada a minha capacidade medíocre de orientação. A uma velocidade moderada, não seria isto um entrave para a segurança de ninguém. Pensava.

O primeiro momento de que me lembro depois disto é acordar no hospital, com fita-cola na perna esquerda cobrindo uma ferida transversal, e leads sensacionalistas na televisão em referência ao espetacular resgate de um carro capotado junto ao mar.


026, 026, 026, calem-se com isso, pá! Acham razoável produzir merchandising com tudo que move, termos de aturar isso em porta-chaves, T-shirts lisas e bonés? Longe com essa insinuação de memorabilidade, sejam verdadeiros, escrevam Hawai, XXX, o raio que vos der na real gana! Agora, poupem-me de exaltações temporais!