Uma agonia (no meio da praça)

Tenho uma agonia. A agonia de não poder voltar ao passado, congelar o tempo com as mãos, roubar-te três ou quatro beijos e guardá-los dentro da garrafa que bebo com afinco no meio desta praça, deitado miseravelmente no chão, numa espécie de atentado ao pudor, esperando apenas ser levantado pela polícia, experimentar umas algemas, meter-me na carrinha, apresentar-me na esquadra e ir a julgamento por tentar sempre fugir de mim embriagando-me de ti, numa busca ridícula pelo dia em que acordo, o coração bate devagar, tenho algo útil que fazer, não durmo sozinho, o mundo não quer desabar.