Entrei no bar passava pouco das dez. Como era habitual naquela zona da cidade, dezenas de mulheres mais ou menos despidas reclinavam-se em direção a homens de meia-idade, entusiasmados, sozinhos convertendo um bocado de salário num outro tanto de sensação.
Cada um dos homens sentava-se numa mesa redonda, de madeira, com um tabuleirinho de metal na ponta, de fácil acesso para as artistas. Os mais generosos deixavam alguns trocos, enquanto outros ficar-se-iam por desembolsar o mínimo necessário à saída. Nos tabuleiros destes últimos, quando iluminados pelos holofotes, havia como obter uma visão límpida dos olhos das mulheres, vencidos pela vida mas não por isto menos ricos em sonho.