Praga

É tão somente a quarta ou quinta capital do velho continente que visito, por inércia ou fricção, mas julgo poder afirmar que ficará estampada no livro da memória como uma das mais especiais.

Há na ponte Carlos pela noite uma familiaridade inexplicável, talvez porque se cerca de outros viadutos dos dois lados, como no Porto; ao contrário do Porto, porém, liga dois focos populacionais situados em belíssimo centro histórico impecavelmente preservado, o que faz com que o transeunte se sinta protagonista de um tempo que o ultrapassa sem critério.

Sendo a casa de Kafka, abraça o sombrio como seu e leva-se muito pouco a sério, o que há de ter contribuído para a fixação pacífica de um punhado de culturas, línguas, identidades e formas de viver diametralmente opostas. Por isto, é criativa nos jardins, precisa nos transportes, eficaz nas logísticas, atrevida nas lides noturnas, mulher bonita em manhã de outono.