Há tempos escrevi um texto sobre a morte de uma pessoa, e como fiz com tantos outros textos ou deslumbres, maltratei-o, mas com pouco sucesso, porque ele habita na minha mente, está tatuado na minha memória, é um artefacto irrefutável da minha história.
Convivemos muito mal com a morte. Tememo-la, mas desejamo-la, num raciocínio tão ilógico quanto a racionalidade em si. Celebramo-la, em espaços horrendos de pedra suja e flores murchas, numa tentativa de que fique circunscrita a esse cenário, e não possa interromper-nos em qualquer outro.
Falhamos. Falhamos em toda a linha, porque a morte está em todo o lado, não é o além nem uma outra vida, é a nossa vida, são as despedidas, é o cemitério de almas que é a consciência coletiva.
(Ó rapaz que dás flores a essa rapariga que está tão distante, preocupa-te menos um pouco, vive mais devagar, porque não há nada que possas fazer para evitar a morte.)