Além do Freixo

Pretendia atravessar o rio com o propósito único de obter justiça. Fui barrado à entrada do Freixo, todavia, por um bando de sargentos armados, que me impeliram a ficar a norte, pelas características que retiraram do meu perfil apenas por análise da carta de condução. Garanti-lhes que sabia o que me esperava além do rio, e que estava numa missão delicada e de extrema importância para a minha família. Eles riram-se, tiveram-me como um idiota, mas acederam, e meia dúzia de minutos depois estacionei junto do escritório.

Munido de uma série de documentos profundamente incriminatórios, no escritório, procedi a descrever todas as atrocidades de que tinha sido vítima; aleguei danos psicológicos graves, que em muito condicionaram o curso da minha ação e prejudicaram os que me rodearam; rematei que esperava um processo célere, sério e cujo desfecho enfim me colocasse num estado de paz. Os juristas compreenderam as minhas razões e, para meu espanto, assinaram por baixo sem colocar qualquer atrito. Será um caso simples, tem a minha palavra, senhor engenheiro, Agradeço-lhe imenso o profissionalismo, doutor.

Quando, após o julgamento, regressei a casa com uma brutal indemnização, beijei a minha mulher, comi um prego no pão ao largo do jardim, passeei o cão, tomei um café no Cufra.